O Cristiano, diretor de cinema, velho amigo das cadeiras da primeira turma da AIC é um poço de boas surpresas.
Trabalhamos já há muitos anos juntos mas mesmo assim ele sempre me surpreende – como no caso desse filme “A Mãe”.
(Para mais stills e informações sobre o filme A Mãe clique aqui)
Me ligou com o projeto desse longa-metragem ficção aprovado, captado, pronto pra ser gravado.
– “Bora fazer a pós?”
– “Bora” (estamos beirando os 10 longas juntos)
E entrei no projeto.
Uma das primeiras tarefas foi gerir o processamento do material bruto – estávamos optando por um workflow em ARRIRAW – e, por isso nos dedicamos a feitura de dailies (versões das gravações em baixa com lut de rec709 aplicado).
Na ocasião, propus um workflow remoto, potencializando o uso da minha estrutura física como casa de pós-produção alinhado com a necessidade de um baixo custo para a produção.
Colocamos o backup e os proxies junto e chegamos nos seguintes parâmetros:
- Material bruto em ArriRaw 2.8K
- Proxies e Dailies com LUT aplicado e áudio em sincronia
- Dailies fornecidos por cloud
- Proxies fornecidos em Prores Proxy
- Entrega dos dailies em tempo máximo de 3 dias
- Localização das gravações e base: São Paulo/SP
- Localização da minha infra-estrutura: Curitiba/PR
Para tal e, levando em consideração o orçamento baixo, ataquei o desafio da seguinte forma:
Desde o começo das negociações com a Bela Filmes estudei o hardware que precisaria para descarregar o material vindo do set.
Das filmagens trafegávamos sempre com drives Samsung Evo SSD de 2TB – acoplados a uma interface sata-usb 3.0 genérica – eu precisaria que esse material fosse copiado e transferido, tudo isso com segurança.
Sendo assim, abordei o problema com a seguinte lista de requisitos:
- Conexão USB 3.0
- Leitura de HDS em HFS+
- Capacidade de descarregar e subir o material, em torno de 1TB por diária
- Conexão com a internet via cabo
- Suportar software de transferência de arquivos com checagem de CRC e resumo de transferências
- Acesso remoto, simples de configurar
- Facilidade de peças e manutenção por qualquer um tecnicamente inclinado
Inicialmente flertei com a ideia de colocar uma ilha na base e controlá-la via screen sharing.
No entanto, tal solução me pareceu sempre um tanto propensa a falhas e, após pesar os prós e os contras resolvi atacar o problema com um NAS Synology de 8-baias que estava parado na produtora.
Foi minha melhor escolha.
A escolha Synology
Confesso que até o momento eu não havia explorado muito esse NAS – como servidor de arquivos dentro da produtora eu o achei um pouco fraco e, por isso, estava parado.
Precisava de algo simples de configurar, com acesso remoto e que, caso houvesse algum problema eu pudesse contar com um técnico não-especializado para arrumar.
Sendo assim, instalei-o na base muito rápido (basicamente conectei os cabos) – configurei o acesso remoto pelo serviço quickconnect – simples, rápido e me avisava por email se o NAS saía da rede – e fiz todo o resto pelo meu notebook, remotamente.
Cópia com CRC e Upload
Bom, depois de escolhido o hardware, tratei de desenhar o pipeline necessário ao workflow que estava tratando, os seguintes problemas deveriam ser resolvidos pelo hardware de São Paulo:
- Cópia com CRC do material bruto para o backup
- Upload do material para o servidor em Curitiba onde se daria o restante do processamento das informações
Durante essa etapa, testei várias soluções disponíveis e a velocidade que conseguia com cada uma delas, obtive o melhor resultado com as seguintes soluções:
- USB Copy da própria Synology, disponível gratuitamente na Package Store deles – solução bem completa de cópia com GUI.
- Resilio Sync para o upload, solução baseada em torrent que já uso há muitos anos para transferência de massive loads, sempre com check de integridade.

Me desculpem a qualidade do gráfico acima, eu fiz um story no instagram (segue a gente lá! @antiglitchfoundation) e era só essa foto que eu tinha – o primeiro círculo é a conexão antes do VPN – uma rede virtual criptografada – e o segundo é depois.
Consegue perceber o traffic shaping por parte da Vivo? Isso foi apontado logo nos primeiros testes (ambas as conexões eram vivo empresarial 300mb).
Na agf, utilizo a solução de OpenVPN do pfsense (firewall opensource) e, por conta disso, foi muito fácil conectar a base em SP com CWB. Quando tudo ajeitado, percebi que minha velocidade estava mais estável e eu conseguia subir em torno de 1TB/12h , perfeito para meus planos.
A estrutura em CWB
Em Curitiba, pra rodar o Resilio, optei pela solução mais rápida: rodá-lo diretamente no hardware do servidor de dados onde eu tinha espaço para armazenar as brutas: meu velho servidorzinho Dell.
O velho Dell (aposentei depois dessa missão) era um FreeNAS com o Resilio Sync baixado da app store – facilmente configurei uma pasta compartilhada com a rede local e, pronto: material sendo baixado e disponibilizado na rede local.
Dailies e Proxies
Levando em consideração que deveríamos sincronizar todo o material com o áudio da forma mais rápida possível e da necessidade de conversão do material em rec.709 optei por fazer a ingestão e feitura dos intermediários pelo Davinci Resolve.
O Davinci ainda é um pouco precário tratando-se de scripting e automação porém ele se provou a ferramenta adequada para fazer o processamento das imagens e me forneceu o bruto sincronizado em PRORES 422 HQ, 1080p, com o LUT padrão de logc-rec709 da Arri aplicado.
Esses arquivos, processei novamente/automaticamente com o Adobe Media Encoder para obter os h.264 e os Prores Proxy, fornecidos ao cliente por meio de upload automático via Cliente Dropbox.
E foi isso, o filme agora está em processo de montagem, entra em finalização nos próximos meses e, se tudo der certo em 2022 conseguimos lançar no circuito comercial, hoje, como tenho o bruto todo em Curitiba só trafego com o diretor arquivos de timeline (XML do FCP7) e assim vamos nos entendendo – posso dar consultoria em efeitos visuais muito rápido e testar quaisquer soluções que facilitem a narrativa – também posso gerar cópias intermediárias sem esforço adicional.
E pra você? Como posso lhe ser útil?
Desde esse post – A Mãe foi finalizado pela antiglitch e está sendo comercializado. Para stills e informações sobre o filme clique aqui.
Lucas Negrão é diretor criativo de pós-produção, colorista formado pela International Colorist Academy e dono da agf. Fornece soluções e consultoria em pós-produção há mais de 15 anos